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A história do Canário

Histórico

O primeiro canário de que se tem notícia foi encontrado nas Ilhas Canárias, na Costa Africana do oceano Atlântico, por volta de 1402. Sabe-se que as Ilhas receberam esse nome antes do pássaro. Curiosamente, os romanos chamavam-nas de "Ilhas dos Cães" por serem habitadas por um tipo de raça de cães de grande porte. Como era de se esperar, os romanos tiveram maior interesse em ferozes cães de guarda do que em pequenos pássaros cantantes. A palavra "canário" é uma corruptela de "canis", ou cachorro, em latim.

O Canário Selvagem, ou Serinus Canarius, possui pouco mais de doze centímetros, é nevado, de cor verde acinzentada e com partes córneas escuras; o macho apresenta faixas amareladas enquanto que a fêmea possui partes marrom acinzentadas. Sua aparência é bastante similar à do canário verde comum. Já no século XV, tem-se notícias de canários sendo criados como animais de estimação na Europa. Ainda hoje, porém, pode-se encontrar o Canário Selvagem nas Ilhas Canárias, Açores e Cabo Verde.

Por um período de quinhentos anos, através de criações seletivas, uma grande variedade de canários foi desenvolvida. Alguns foram criados puramente pela sua habilidade vocal, onde a aparência não tinha importância. Até a Revolução Industrial, quando não existiam máquinas barulhentas, alguns artesãos costumavam manter canários em suas lojas para entretenimento. Essa prática de manter canários nos locais de trabalho acabou levando-os para as minas de carvão, onde eles serviam de "alerta" ao homem, quando morriam devido à ocorrência de gases perigosos.

Os Ingleses se distraíam fazendo experiências com os tamanhos e formas que um canário poderia apresentar, conseguindo criar algumas variações da raça, entre elas o Norwich, o Yorkshire e o Gloster. Já os franceses e italianos preferiram lidar com a postura dos canários e obtiveram vários exemplares com diferentes curvaturas da espinha. Até o início do século XX, o canto e a forma dos canários eram alvo da dedicação dos criadores. No entanto, uma mutação apareceu em um criadouro de canários de canto clássico despertando a atenção para a cor dos pássaros, iniciando, nesse momento, um novo interesse por parte dos criadores e desencadeado uma série de experimentos, levando às mais de trezentas cores conhecidas atualmente.

Evolução

Desde 1478, os canários eram criados em cativeiro no continente europeu, mas, somente em 1709, foi publicado o primeiro livro exclusivamente sobre esses pássaros, cujo autor, Hervieux de Chanteloup, já relacionava vinte e nove qualidades distintas pela cor da plumagem, entre eles os canários verdes, canelas, brancos, amarelos e alguns com olhos supostamente vermelhos. Também estavam incluídos os pássaros pintados (mutação do fator enzima) e o fator intenso (mutação do fator nevado).

A cor verde do canário resulta dos efeitos de vários componentes que entram na formação de suas plumas e penas. Basicamente, o verde é conseguido pela combinação do amarelo do lipocromo com as melaninas negra e marrom e em alguns casos pelo azul refletido por pequenas partículas de melanina negra dispersa na plumagem, mais precisamente nas bárbulas. A presença da melanina marrom, a nuance do amarelo que é extremamente variável e o fator intenso, além de alguns outros fatores, fazem variar o tom do verde, indo do verde musgo ao cinza esverdeado, quase sem brilho, que caracteriza o canário ancestral.

A primeira modificação da cor do canário ancestral ocorrida em cativeiro foi o desaparecimento dos pigmentos melânicos em algumas partes da plumagem, numa primeira etapa, e, posteriormente, sua inibição total, transformando o canário verde original em um pássaro totalmente amarelo, com olhos escuros. Esta mutação ocorreu por uma deficiência na função exercida pelo fator enzima, que será tratado posteriormente.

Também o fator nevado presente no canário ancestral sofreu mutações, dando origem ao fator intenso. Esses dois fatores influem na estrutura das plumas e penas, fazendo com que o pássaro intenso apresente normalmente uma plumagem mais compacta, tornando o seu contorno ligeiramente menor. As penas de um pássaro nevado apresentam uma zona despigmentada na extremidade, variável de indivíduo para indivíduo. Já no pássaro intenso, os pigmentos atingem as extremidades das barbas e bárbulas e a coloração da plumagem é uniforme, normalmente se apresentando com um tom mais forte.

O canário ancestral possui cor de fundo amarelo clara. O amarelo é resultante do depósito de lipocromo nas bárbulas, barbas e eixo das plumas e penas. A ausência de lipocromos deu origem à cor de fundo branca e, conseqüentemente, aos canários "brancos dominantes", mas com incrustações amarelas em sua plumagem.

Em 1908, na Nova Zelândia, um casal de pássaros amarelos nevados deram origem a um pássaro totalmente branco. Com acasalamentos consangüíneos, conseguiu-se fixar a mutação, descobrindo-se que o gene se localizava em um autossomo e que era recessivo. Os primeiros pássaros obtidos eram bastante frágeis e de difícil desenvolvimento. A fragilidade de tais pássaros se devia a uma deficiência orgânica, que não os deixava sintetizar a vitamina "A". Receberam a denominação de Brancos Recessivos, por já existirem os Brancos Dominantes. Sabe-se hoje que o branco não chega a ser uma cor e sim uma ausência total do lipocromo amarelo. Deve-se observar, porém, que a terminologia branco recessivo não é considerada correta, apesar de bastante utilizada. A denominação Branco já caracteriza um canário como recessivo.

Uma outra modificação fez com que o gene responsável pela formação de melaninas negras e marrons perdesse seu potencial. Isso acabou afetando o estágio final do processo de pigmentação, dando origem à mutação canela (ou marrom oxidado). Essa foi a primeira mutação a afetar a cor das melaninas e o canela nada mais é do que um verde onde a melanina negra foi substituída pela marrom.

Nessa época, já haviam três cores de fundo: o Amarelo, o Branco Dominante e o Branco Recessivo. Adicionados à Linha Escura Clássica (onde os canários apresentam melaninas negra e marrom) e aos fatores Intenso e Nevado, já era possível identificar dezesseis cores bem distintas.

No início deste século apareceu a primeira mutação que deu origem à canaricultura visando a cor dos canários. Na Holanda, em um criadouro de canários de canto clássico, do acasalamento de pássaros verdes surgiram canários mutantes, hoje classificados como Ágatas. A característica principal desta mutação é o bloqueio ao depósito de melaninas no início do crescimento das penas e plumas (diluição dos pigmentos negro e canela). A prole consistia somente de fêmeas. Através de acasalamentos consangüíneos, a mutação foi fixada, dando origem a uma nova cor e ao início de uma série de mutações.

O fator que produziu o ágata, conhecido também como primeiro fator de diluição, foi aplicado à mutação canela e, os machos verdes obtidos desse acasalamento, produziram os primeiros marrons diluídos, denominados isabelinos.

Na década de 20, foi desenvolvido na Alemanha o primeiro trabalho sobre genética de canários de cor. Em 1926, tiveram início alguns estudos para a produção de um canário de cor de fundo vermelha. Como o canário não possuía vermelho em seu patrimônio genético, tentou-se o acasalamento com outro pássaro, o Tarim (Spinus Cuculatus), um pássaro de tamanho pequeno, com o corpo colorido de vermelho vivo, cabeça, asas e causa negras, com barras vermelhas nas asas, conhecido como Pintassilgo da Venezuela. O canário fêmea utilizado nesta experiência era de cor amarela e, através do acasalamento com um macho Tarim, nasceram híbridos de cor acobreada. Essa experiência passou por várias fases de insucesso, algumas gerando fêmeas estéreis e outras causando a perda da cor obtida anteriormente. Somente após dez anos de tentativas, foram obtidas fêmeas férteis que possuíam os genes responsáveis pela assimilação do vermelho. Com Alimentação apropriada, estes canários conseguiram atingir tonalidades de vermelho bem vivas. É importante frisar que uma vez que o fator vermelho foi inserido no canário artificialmente, através de hibridação, isto não constitui uma mutação.

Dos acasalamentos entre pássaros de fator vermelho surgiram algumas fêmeas esbranquiçadas com zonas de lipocromo idênticas às observadas na fêmea do Tarim. No final dos anos quarenta, surgiram os mosaicos, hoje bastante aperfeiçoados. A princípio, parecia não ser possível obter machos mosaicos, mas com o passar do tempo essa teoria foi abandonada, pois machos com características bem diferentes dos nevados começaram a aparecer. Através de seleção e da introdução de pássaros Gloster (um dos tipos de canários mais populares) pelos italianos nos plantéis de mosaicos, obteve-se um novo tipo de mosaico, onde o macho e a fêmea apresentam dimorfismo típico.

Já na década de cinqüenta, três novas mutações apareceram: o marfim, o pastel e o opalino.

A mutação marfim surgiu de um casal de amarelos de canto clássico, no começo da década. A mutação ocorreu em uma fêmea, que possuía um amarelo muito suave, contrastante com a cor dos pais e irmãos, apresentando uma uniformidade de coloração perfeita. A utilização de acasalamentos consangüíneos permitiu fixar a mutação e classificá-la como recessiva e sexo-ligada.

Em 1957, na Itália, foram apresentados os primeiros pastéis melânicos. Esta mutação é também conhecido como segundo fator de diluição, pois sua ação é mais intensa sobre as feomelaninas e faz praticamente desaparecer o desenho dos arrons deixando, porém, leves traços nos canários canelas. A mutação foi transferida para os negro-marrons e nestes notou-se também a ação do fator sobre as melaninas negras.

No ano seguinte, em Nuremberg, Alemanha, um dos filhotes de um casal de canários verdes de canto clássico se diferenciava bastante dos demais. Ao invés de apresentar as melaninas fortemente oxidadas, seus pigmentos melânicos estavam diluídos de tal modo que o negro ficara com uma tonalidade cinza azulada e o marrom praticamente desaparecia da plumagem. Os pés e bico, porém, continuavam escuros, aparentemente sem sofrer a ação do novo fator de diluição. Por analogia da plumagem com a perda preciosa, esses canários foram denominados opalas e, posteriormente, opalinos. Esta mutação é recessiva em relação ao seu original e se localiza em um autossomo.

Por volta de 1964, em Bruxelas, Bélgica surgiu uma nova mutação cujo fenótipo podia ser facilmente confundido com um lipocrômico vermelho ou um pastel isabelino, mas que possuía uma subplumagem bege pálido e olhos vermelhos brilhantes, cuja cor não se alterou com o desenvolvimento do pássaro. Esse fator recebeu a denominação "Ino". Localiza-se em um autossomo, é recessivo e inibe totalmente as melaninas negras, permitindo apenas o depósito das melaninas marrons periféricas.

O fator Ino provoca o desaparecimento das eumelaninas negras e marrons da plumagem, mas não da subplumagem (não aparente no canário). A única melanina exibida na plumagem externa e de contorno destes canários é a feomelanina, que deve se apresentar o mais forte possível (marrom chocolate). Nos canários melânicos, a melhor manifestação do fator Ino é observada nos pássaros oxidados (em particular os canelas) onde o fator é denominado "Feo-ino"[HUR96].

Também na década de 60 surgiu uma nova mutação, o fator acetinado ou ino sexo-ligado". Apareceu na Argentina, em 1967 e na França, em 1969. Os pássaros possuíam olhos vermelhos. Contudo, a distribuição das melaninas diferenciava-os dos inos autossomais. Ao contrário dos feo-ino, as melaninas periféricas eram inibidas e somente a melanina marrom aparecia no lugar correspondente às estrias, bastante diluída. Havia porém pássaros que se assemelhavam aos lipocrômicos.

Os pássaros de origem marrom que apresentam marcação nítida nas estrias são denominados "acetinados típicos", enquanto que os de origem negro marrom, se apresentam praticamente como lipocrômicos e são denominados "acetinados diluídos". Sendo um fator sexo-ligado e devido à maior facilidade de manuseio, hoje, quase todos os lipocrômicos de olhos vermelhos são de origem acetinada.

Uma modificação estrutural das células exteriores das penas resultou em uma mutação denominada "Fator Ótico para o Azul". A luminosidade produzida pelo espectro solar, decomposta em radiações, origina várias nuances de cor, que podem ser observadas num mesmo canário em diferentes períodos do dia, ou seja, cores mais amenas de manhã e mais fortes ao entardecer. A plenitude da pureza da cor se observa ao meio-dia. Esse fator transmite o efeito ótico que dá à cor amarela um tom esverdeado, daí a denominação Amarelo Limão.

Os canários Asas-Cinza tiveram origem na Itália, em 1966. Esta mutação é, na verdade, uma variante do fator pastel e se manifesta principalmente nos negro-marrons oxidados. Estes pássaros possuem uma pigmentação bastante diluída na parte média das grandes penas da asa e de cauda, contrastando com as extremidades onde a melanina negra persiste. A tonalidade acinzentada, típica do negro marrom pastel, deve atuar em toda a plumagem.

A mutação topázio aconteceu na França, na década de 80, sendo oficializada em 1993 na Europa e em 1994 no Hemisfério Sul. A alteração surgiu do fator ino e os pássaros que apresentaram-na possuíam melaninas sempre marrons no local das estrias, olhos vermelhos escuros e bandas despigmentadas dos dois lados das penas, o que acabou dando origem ao seu nome. Os canários topázio são perfeitamente definidos nos negro marrons, tanto oxidados como diluídos (ágatas), onde a mutação se expressa.

A última mutação de que se tem notícia ocorreu em 1986, na Espanha. O fator "Ônix" se originou do acasalamento entre canários clássico homizigoto verde intenso e o canário azul. Como o fator eumo, o fator ônix também foi classificado como recessivo autossomal.

A ordem, data e local onde as mutações apareceram pela primeira vez não são precisas e podem não ser totalmente verdadeiras. Isso porque há inúmeros criadores espalhados por todo o mundo e somente aqueles que observam para reconhecer uma mutação quando ela aparece é que têm condições de fixá-la através de acasalamentos corretos. Também não é raro detectar uma modificação na cor de um pássaro e não conseguir reproduzi-la, fazendo com que aparentemente ela seja perdida. O que se tentou fazer aqui foi relacionar todas as mutações conhecidas atualmente, ou pelo menos as principais, colocando-as numa ordem razoável e dando algumas poucas características de cada uma.

A GENÉTICA DOS CANÁRIOS

A genética dos canários é um campo bastante desenvolvido. Todas as cores dos canários se baseiam em genes que controlam a melanina e o lipocromo. A melanina é preta no canário ancestral e o lipocromo (cor de fundo ou de base) é de cor amarela. A combinação de preto e do amarelo dá a aparência de um pássaro verde. Alterações nas cores e nos componentes da plumagem do canário ancestral trouxeram as diversas mutações hoje existentes. Essas variações podem atuar tanta na cor de fundo como nos pigmentos melânicos, reduzindo sua expressão em graus variáveis, inibindo seu aparecimento e às vezes aumentando seu efeito. O gene que remove a melanina é parcialmente dominante. Um único fator, desse gene provoca um tom variado, com cores claras e escuras, enquanto que dois fatores, determinam um canário claro, que exibe somente a cor de fundo (ou lipocromo), podendo se apresentar em várias gradações de vermelho, amarelo ou, simplesmente, branco.

A melanina no eixo das penas (eumelaninas) pode ir do negro ao cinza azulado, do marrom escuro ao bege claro, ou mesmo estar ausente. Já as melaninas periféricas (feomelaninas) variam do marrom escuro ao bege claro, podendo também não se exteriorizarem. Além dessas variações de coloração, a estrutura das barbas e bárbulas pode mudar, criando variações que também concorrem para a mudança de cor.

Continue estudando e principalmente, observando as belas nuances de cores que essas aves apresentam.


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